quinta-feira, 22 de abril de 2010

dança profetica com shofar

O G12 HOJE ( ENFOQUE GOSPEL)

Para entender o que é o modelo G12, é preciso conhecer os pastores César e Claudia Castellanos, fundadores da Missão Carismática Internacional, em Santa Fé de Bogotá, Colômbia. Foram eles os criadores desse movimento, que, desde 1999, se propaga no Brasil, causando simpatia e repulsa, apaixonados pela visão e rebeldes, rachas e uniões, encontros e desencontros, verdades bíblicas e heresias.




César e Claudia iniciaram a Missão, no início da década de 80, usando o modelo da igreja em células de Paul (David) Yonggi Cho, autor do livro A Quarta Dimensão, com conteúdo de forte influência da confissão positiva e teologia da prosperidade. Buscando um modelo mais eficaz para crescimento, em fevereiro de 1983, César recebeu, segundo suas próprias palavras, uma profecia de 45 minutos: “Sonha, porque os sonhos são a linguagem do meu Espírito. A Igreja que tu pastoreias será tão numerosa como as estrelas do céu ou como a areia do mar, que, de tanta gente, não se poderá contar”. Foi desse sonho que nasceu a visão do governo dos 12, que compreende doze líderes, focalizando diferentes áreas da sociedade, formando uma cadeia não geográfica para alcançar mulheres, homens, crianças, jovens. Neste modelo se forma uma pirâmide de células, plantadas pelas pessoas que se convertem. Cada célula se reproduz do mesmo modo, acelerando o crescimento da Igreja.



O sonho de Castellanos também virou o livro Sonha e ganhará o mundo, uma espécie de bíblia colombiana do movimento. De acordo com a apóstola Valnice Milhomens, em sua Declaração sobre a Visão dos Doze: “Não existe um movimento chamado G12. O termo, ao que parece, foi usado nos Estados Unidos, para simplificar um modelo de igreja em células, sendo agora usado no Brasil”. É a pastora Valnice a pessoa responsável por trazer ao Brasil César e Claudia, em junho de 1999, para uma convenção. Com o tema Avivamento Celular – Desafio para o Século XXI, mais de 3500 pastores de todo o País, de diversas denominações, ouviram e muitos adotaram a visão ministerial vinda de Bogotá. Na ocasião, o pastor César ungiu Valnice como parte da equipe internacional.



O modelo gerado em Bogotá afirma que cada pessoa ganha para Cristo deve ser integrada a uma célula, e cada célula deve, por semana, alcançar novas pessoas. Ainda de acordo com a Declaração de Valnice, cada novo crente é visto como um líder em potencial, que, após passar por um processo de consolidação, é encaminhado a uma escola, onde será treinado como líder de célula: “Ao abrir sua própria célula, ele sai de sua célula mãe, mas continua ligado ao seu líder, que continuará a discipulá-lo. É como um filho. Seu líder vai reunindo em torno de si cada um dos líderes nascidos em suas células, até o numero de doze. A isso se chama grupo de 12”. A multiplicação de uma célula em doze leva de um a três anos, de acordo com o ritmo do líder.



Na Missão Carismática Internacional, de Bogotá, já existem mais de 25 mil células. De acordo com o pastor Frank Gonzalez, auxiliar de César Castellanos, as células são a coluna vertebral da Igreja: “O modelo das células é uma estratégia do Espírito Santo para pastorear multidões e poder conservar todas as pessoas que se entregam a Jesus Cristo. As células são respostas de Deus à Igreja do terceiro milênio, já que a igreja celular avança. Aqui as células são um modo de vida, não é um programa, mas a coluna vertebral de nossa igreja”.



Pastor Henrique (nome fictício) participou da Convenção de 1999, em São Paulo. Foi com um amigo que estava estudando sobre o modelo celular, que tinha iniciado uma igreja com dez pessoas no interior do Rio de Janeiro e queria aprender com Castellanos a funcionalidade do G12. Henrique, de formação congregacional, queria dinamizar a igreja que pastoreava, fazendo-a experimentar um crescimento numérico: “Esse foi meu primeiro erro. Quem foi que disse que ministério de sucesso é ter muito membro na igreja?”, questiona. Depois de fazer o conhecido “Encontro com Deus” na igreja do amigo, Henrique passou a organizar os “encontros” em sua própria igreja: “Dividimos os membros, que na época eram uns 80 em células e começamos a tentar trabalhar dentro dessa visão”. O resultado foi uma tragédia! Ele conta que a igreja que já era pequena se dividiu. “Os líderes da minha denominação me caçaram e eu estava ali acreditando que aquele movimento todo era a resposta que eu precisava para minha igreja”. O pastor, que hoje tem 46 anos, deixou o congregacionalismo e organizou uma nova igreja, que nunca passou dos 80 membros. “E somos felizes assim. Aqui pregamos a Palavra, oferecemos refrigério aos cansados. Os que ficam conosco são bem-vindos. Outros vão somar em outras igrejas, e muitos outros nunca poderão dizer que não falamos de Cristo”.



O amigo cujo nome Henrique prefere não citar o nome, continuou no modelo da visão celular e, hoje, lidera uma grande igreja. “Ele já é quase apóstolo. O problema não é a divisão em células. São as heresias que entraram junto. Esse pastor começou a ensinar que doença em crente era legalidade dada ao diabo por assistir novela, filme ou desenho animado. Sabe? Cansei disso tudo”. A mulher de Henrique lembra do sofrimento que a família passou entre 2000 e 2001: “Meus filhos não conseguiam entender porque passamos a ser alvo dos nossos líderes. Quando fomos abandonados pela igreja, era meu sogro que pagava até nossa conta de luz”.









A apóstola Valnice Milhomens foi a pessoa responsável por trazer ao Brasil César e Claudia Castellanos, em 1999, quando ela foi ungida como parte da equipe internacional O ENCONTRO É TREMENDO



No início dos anos 2000, virou moda falar do "Encontro" e a frase "O Encontro é tremendo" se tornou chavão em igrejas tradicionais e pentecostais. A expressão virou adesivo de carro, estava estampada em camisetas e painéis: “Era uma febre. Todo mundo queria participar. O "Encontro" era a porta de entrada para a visão da igreja em células”, conta pastor Henrique, que organizou esses retiros para mais de 200 pessoas. “Eu estava sob a autoridade espiritual de um pastor de Brasília. Organizávamos tudo e vinha a equipe de lá para ministrar”.



Na visão da igreja celular, quatro palavras resumem o modelo: ganhar, consolidar, treinar e enviar. Os encontros são realizados para consolidar os novos crentes para que tenham condições de treinar e enviar outros. Ainda de acordo com a Declaração sobre a Visão dos 12, de Valnice, o "Encontro" trata-se de um retiro no qual o novo crente experimenta um impacto espiritual marcante em sua vida: “À semelhança do que aconteceu com Paulo depois da visão de Jesus a caminho de Damasco, quando por três dias esteve separado na presença de Deus, o Encontro visa separar o novo crente do seu ambiente para um tempo concentrado na presença de Deus. Ali ele é levado a refletir sobre o plano de Deus para sua vida”, conta. Quem também participou do "Encontro" foi Roberto César do Nascimento. Ele fez circular pela Internet suas impressões sobre o "Encontro", em que participou juntamente com sua igreja: “Percebi distorções e enganos. Me preocupei com os rumos que as igrejas evangélicas estão tomando. Pastores e líderes, com ânsia de verem suas igrejas crescerem, adotam métodos e técnicas sem análise criteriosa”. Roberto conta que foi excluído da igreja por discordar da visão. “Fui chamado de covarde, rebelde, insubmisso e desobediente. Mas estou firme em Cristo Jesus”.







RUMOS



Além de Valnice Milhomens, um outro expoente do modelo dos 12 no Brasil foi o apostolo Renê Terra Nova, do Ministério Internacional da Restauração, em Manaus. Assim como Valnice, ele também fez parte da equipe internacional de César Castellanos. Vale também dizer que os dois são oriundos da Igreja Batista, da Convenção Batista Brasileira.



Renê Terra Nova se desligou do G12 no final de março de 2005, quando rompeu com Castellanos e adotou para si e sua igreja uma nova nomenclatura chamada Visão Celular (Movimento Celular, M12), que, de acordo com Marcio Argachf, autor de um estudo sobre os enganos do movimento, apresenta a mesma metodologia do G12, observando que “na pratica é apenas outra pirâmide, com ele no topo ao invés de Castellanos”.



Foi também no final de março que o pastor colombiano revelou aos seus seguidores que, a partir daquele momento, ia querer receber um determinado valor das igrejas que usassem a marca G12. “Por isso é comum hoje encontrarmos igrejas que não mais usam o termo G12, mas continuam aplicando os mesmos ensinamentos, ou melhor, distorções doutrinárias aprendidas enquanto seguiam Castellanos. Caso ouçam falar em M12, Visão Celular, Igreja em células, certamente estarão diante dos mesmos ensinamentos originais do G12, com uma nova roupagem para que não seja necessário pagar nenhum royaltie ao "profeta original" Castellanos, explica Márcio em seu texto.



Já Valnice Milhomens e a Igreja Mundial do Senhor Jesus Cristo continuam reconhecendo que o modelo de Bogotá é a base: “Cremos que Deus deu ao pastor César Castellanos o Modelo dos Doze que há de revolucionar a igreja do milênio, pelo que o abraçamos inteiramente, colocando-nos sob sua cobertura espiritual dentro dessa visão revolucionária. Estamos, como igreja, comprometidos em viver esta visão”.



Foi com espanto que o pastor batista Marco Davi de Oliveira viu acontecer no "Encontro" que participou, em Brasília, regressões onde os participantes eram sugestionados a irem até o tempo de fetos, buscando cura interior e dando perdão aos que os magoaram, ofenderam ou abusaram, mesmo que essas pessoas já tivessem morrido. Ensinavam que até mesmo Deus devia ser perdoado: “Participei em 2000, para conhecer e ter subsídios para enfrentar todo aquele movimento que surgia. Não há nada errado em dividir a igreja em grupos ou células, em ter reuniões nas casas. Anos atrás era muito comum ter cultos nos lares, e que davam bons resultados. A dificuldade está nas práticas, em revelações extras bíblicas, no foco em maldições hereditárias, decretos, prosperidade e mapeamento espiritual”.



Os dados do Censo 2000 revelaram o crescimento dos evangélicos no País, com uma duplicação da membresia das igrejas entre 1980 e 1991. Se consideram evangélicos no Brasil, hoje, 15,4% de uma população estimada em 169,7 milhões de pessoas.



Talvez grande parte desse crescimento possa ser atribuído ao ímpeto evangelizador do modelo G12. Mesmo assim, o movimento inaugurado pelo casal Castellanos causou polêmica em proporção igualitária aos seus resultados. Só o tempo poderá nos fazer avaliar melhor o que irá acontecer.



fonte: www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=54&materia=289